Lojas físicas e feiras dão impulso à economia popular solidária

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Lojas físicas e feiras itinerantes dão impulso à economia popular solidária em Minas Gerais

Primeiro ponto de vendas foi inaugurado em Diamantina. Passos aproveita espaço ocioso e colhe bons resultados da vitrine aberta para integrantes de empreendimentos solidários

 

Ela faz pano de crivo, customiza toalhas de banho e de rosto e não se esquece dos bicos e do bordado nas toalhas de mesa. O crochê está entre os diferentes tipos de artesanato feitos por dona Piedade da Silva, integrante da Associação Comunitária dos Artesãos do Distrito de Sopa, a 12 km do centro da histórica cidade de Diamantina, no Território Alto Jequitinhonha.

A beleza das peças, ensina dona Piedade, está no fazer com o coração. “Aqui não são feitas de forma rápida não, é lento, para valorizar a boa prosa, a troca de experiência”, diz ela, ao comemorar que hoje tem mais tempo dedicado àprodução, já que Diamantina conta com um espaço próprio para a comercialização dos produtos de dez associações de economia solidária e agricultura familiar.

Dona Piedade se refere ao Centro de Apoio à Agricultura Familiar e Economia Solidária (Caafes) de Diamantina, o espaço para comercialização de bens produzidos pelos empreendimentos do município, baseados nos princípios da economia solidária. Inaugurada em março deste ano, a iniciativa tem a participação do Governo de Minas Gerais, por meio da Sedese, Emater-MG e em parceria com a Prefeitura, Câmara Municipal e Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha.

“O Caafes Diamantina apresenta resultados positivos no fortalecimento do trabalho coletivo e da cultura do comércio justo e solidário”, diz o diretor de Comercialização da Superintendência de Políticas de Empreendedorismo e de Economia Popular Solidária da Sedese, José Ribeiro Gomes.

A coordenadora técnica regional da Emater-MG, Claudete Maria Souza e Costa, destaca que o Caafes contribui para o fortalecimento do trabalho coletivo e da cultura do comércio justo e solidário.

A iniciativa garante, ainda, o aumento da oferta de produtos de melhor qualidade, legalizados, e a valorização dos produtos locais da agricultura familiar e da economia solidária. Mulheres e jovens são os mais beneficiados com a inclusão no mercado produtivo e em mercados institucionais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Quarto maior município mineiro em extensão, Diamantina tem distritos muito distantes da sede, o que inviabilizava economicamente o deslocamento de agricultores familiares, artesãos, doceiras e quitandeiras, do meio rural, para comercializar seus produtos. Sem um espaço físico, fixo e bem localizado a situação não era a melhor para os produtores.

Com o Caafes, um ponto fixo de vendas, incentiva-se a geração de renda entre os empreendedores da agricultura familiar e economia solidária, fomentando o comércio local.

Os produtos comercializados são as flores sempre-vivas, artesanato de palha e tecido, quitandas caseiras, mel, farinhas, tapetes, passadeiras, doces caseiros, polpas de frutas, os panos de pratos produzidos pela dona Piedade, entre outros. Todos oriundos de empreendimentos de Diamantina, seus distritos e povoados.

Tendo os próprios produtores à frente das vendas e no gerenciamento coletivo do espaço, o ponto permanece aberto de segunda a sexta-feira, de 8h as 17h, e, aos sábados, de 9h às 12h.

 

Construção coletiva

A ideia nasceu do diálogo, uma marca da atual gestão. Em uma das feiras organizada na cidade pela Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), técnicos da Diretoria de Comercialização apresentaram à secretária municipal de Desenvolvimento Social de Diamantina, Maria do Carmo “Cacá”, a Política de Estruturação da Economia Solidária, com a opção da criação de pontos fixos de comercialização.

José Ribeiro Gomes, da Sedese, recorda que a proposta foi bem aceita pela administração municipal e logo colocada em discussão no Conselho Municipal de Economia Popular Solidária (Comeps).

“Uma vez aprovada no Comeps, a proposta voltou à Diretoria de Comercialização da Sedese já com a indicação de local para instalação do ponto fixo: uma loja na rodoviária de Diamantina. Com diálogo e participação, a proposta foi além e reuniu no mesmo espaço grupos de economia solidária e de agricultura familiar”, disse José Gomes.

Até a inauguração do ponto fixo, em cerimônia presidida pela secretária de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, Rosilene Rocha, no dia 15 de março deste ano, cooperados e cooperadas receberam orientação técnica da Sedese.

O Caafes é gerido por um Conselho Gestor, composto por representantes do Conselho Municipal de Economia Solidaria e de representantes do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS).

Esses representantes efetuam as vendas, em trabalhos voluntários, de acordo com escala combinada entre eles. Além disso, são responsáveis pelo transporte de suas mercadorias, pela limpeza, reparos e correto uso dos equipamentos e mobiliários disponibilizados pela prefeitura.

Participam as secretarias municipais de Desenvolvimento Social, Turismo, de Desenvolvimento Agrário e de Meio Ambiente – e parceiros. Um jovem aprendiz, disponibilizado pela prefeitura, também atua no Caafes no contraturno escolar.

O controle de vendas é diário e, no final do mês, é feita uma divisão do valor entre os fornecedores que efetivamente comercializaram seus produtos e é retirada uma taxa de manutenção. São eles mesmos os responsáveis por fazer a gestão do espaço.

Dona Piedade garante que a instalação de um ponto fixo foi muito boa para ela e para as amigas que participam da associação. Antes, não havia onde expor e/ou comercializar, daí, elas tinham que sair mais vezes para vender osprodutos, o que limitava a produção.

“Ter um lugar para expor é bem melhor, gera mais qualidade de vida e deixa mais tempo para  a gente produzir, além de agregar à cidade um local de referência do artesanato e da agricultura para o turista”, conclui dona Piedade.

 

Passos

A Sedese possui uma Diretoria Regional também em Passos, no Território Sudoeste, onde um espaço até então ocioso, de frente para a rua, tornou-se vitrine para empreendimentos da economia solidária. Estruturada como ponto fixo de comercialização, a iniciativa tem apresentado bons resultados na região.

Diretor regional da Sedese, Graziani Vilela estimulou três empreendimentos de economia solidária – ‘Empório Recriarte’, ‘Mãos na Arte’ e ‘Arte em Ação’ – para que ocupassem o local como um ponto fixo, com o objetivo de expor seus produtos, oportunizar o primeiro contato de compradores com o artesão e dar visibilidade às feiras que acontecem em Passos e região.

“O artesanato local é feito na sua maioria por mulheres. Elas trabalham com biscuit, reaproveitamento de tecido e peças em MDF, dos recicláveis aos bordados. Já temos cerca de 20 famílias diretamente beneficiadas e com a responsabilidade de cuidar da gestão do espaço”, explica Vilela.

Entre as mulheres que dão vida aos empreendimentos, a presidente do Empório Recriarte, Sheila Reis de Souza, destaca que a iniciativa contribui para ampliar a rede de artesãos que dialogam a partir da economia solidária.

“Estamos há dois anos neste espaço e, desde então, vimos aumentar a visibilidade dos coletivos de artesãs e do artesanato produzido na cidade, além da comercialização, é claro”, destaca Sheila, ao recordar que outros artesãos e artesãs entram no ponto fixo e nele buscam informações sobre a formalização de sua atividade.

O ponto fixo está situado na Praça Monsenhor Messias Bragança 80 A, no bairro Centro, e torna-se também um ponto de apoio quando acontecem as feiras na cidade, como na 5ª etapa do Circuito Estadual de Feiras da Economia Solidária, que reuniu 28 empreendimentos de sete municípios, entre os dias 4 e 12 de maio. Com o espaço, quem visitou a feira pode fazer sua encomenda e voltar depois para buscá-la.

 

Política Estadual de Comercialização

No início da atual gestão do Governo de Minas Gerais, em 2015, o então secretário de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, André Quintão, solicitou aos técnicos que apresentassem propostas para fortalecer e consolidar a economia solidária como política pública.

O primeiro passo se deu com a criação da Superintendência de Empreendedorismo e Economia Popular Solidária, na Sedese, com quatro diretorias: Apoio a Empreendimentos; Apoio à Participação Social e Educação; Apoio à Autogestão dos Empreendimentos; e  Comercialização.

“A comercialização está também entre os quatro eixos do Plano Estadual de Economia Solidária. Assim, o Governo de Minas Gerais vem trabalhando para implementar os pontos de comercialização, sejam eles configurados como lojas físicas ou em feiras itinerantes e periódicas”, explica o diretor de Comercialização, José Ribeiro Gomes.

Para garantir o apoio às feiras, o Governo Estadual já entregou kits de barracas personalizadas a 15 municípios mineiros. Com investimento da Sedese, a ação impulsiona a venda dos empreendimentos da economia popular solidária e fortalece a economia local. Além disso, a secretaria oferta, sempre que acionada, atividades de assessoria técnica aos artesãos.